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MANUEL VILARINHO
AO LARGO DE VIAREGGIO
pinturas
Salão Belas Artes
3 a 31 de março de 2018

O Wild West Wind, thou breath of Autumn's being,
Thou, from whose unseen presence the leaves dead
Are driven, like ghosts from an enchanter fleeing,

Ode to the West Wind by Percy Bysshe Shelley
(Guimarães, 2010, p. 40)

 

Em Ao Largo de Viareggio, pinturas, o artista Manuel Vilarinho vislumbra a paisagem, enquanto drama e tragédia. Através de Shelley, Byron e Keats, o pintor projeta-nos para uma experiência estética de sentimentos e vivências, memória e história, e locais, evocando Viareggio e Roma, cidades eleitas por excelência, onde subtilmente emergem da vida e da morte. Nesta série de pinturas, o passado entrança-se com o presente, e, simultaneamente, o presente retorna-nos ao passado. A memória surge fragmentada com pinceladas rápidas que expressam emoções trágicas da vida, que se lançam para a história.

A pintura "relampeja" poiesis.

No seu olhar erudito, a pintura transita da cor à mancha, do fragmento às inscrições. Entre pinceladas violentas e citações de poetas românticos, a vida dramática quotidiana transcede o estado de espírito do ser humano, onde a poiesis visual se funde com a poesia literária. Porventura, Vilarinho homenageia o seu legado poético de Shelley, Byron e Keats, mas o reconstrói, na tragédia e no caos, o drama do Pós-Modernismo.

Na obra de Vilarinho, a paisagem expressa a «ordem da sensação», tal como afirma Deleuze (2003, p. 36), na medida em que a sensação passa de uma «ordem» para outra, de uma «área» para outra, de uma imagem para outra, numa sequência ou em séries. Através da história, aponta-nos a pequenos estilhaços de memórias fúnebres e de dor.

O naufrágio de Shelley, a sua morte e a vida dos três poetas, que se cruzam em Itália e Grécia, misturam-se como sombras de memórias de uma única vida, cuja experiência estética carrega em si o drama. Contemplamos, assim, as obras Na Praia de Viareggio, 2017, ou No Naufrágio de P. B. Shelley, 2017. Shelley cujo corpo foi devolvido à costa, na praia de Viareggio, teve a sua última homenagem na cerimónia fúnebre organizada pelo seu amigo Byron; Keats, numa vida plena em Roma, morre jovem; e Byron como um espectro numa paisagem grega, where beauty cannot keep her lustrous eyes (cf. Ode to a Nightingale de Keats, in Guimarães [2010, p. 126]), uma inscrição na obra Paisagem com Palavras de Keats, 2011. E, em memória da irmã de Manuel Vilarinho, o último passeio em Roma, na obra Em Roma com Minerva (e minha irmã), 2014.

Funde-se a história, permanecendo subtilmente abstracções e pinceladas dramáticas, onde a cor e a forma procuram uma distorção, por vezes, brutal na representação, cuja paisagem integra um ambiente quase orgânico, tal como em Greek Isle in Autumn (for Byron) #2 e #3, 2009. A cor transpira natureza. A natureza emerge do espírito, sendo o artista a própria natureza. Expressa o dinamismo pictórico e fragmentado, quebrando intencionalmente o conhecimento da história da pintura. Espelha uma «arte», enquanto sensação.

Em Wild West Wind (for Shelley), 2010, a paisagem transparece o vento forte em pinceladas soltas, como se a própria natureza registasse a enorme intensidade do seu gesto selvagem, procurando uma rudeza da forma e do subjectivismo. O vento é o caos, onde a tragédia esboça constantemente o limiar do sentimento do ser humano.

A pintura segue o seu próprio percurso, em que o espectador o encontra especificamente na sensação da forma, por sequências ou séries, em diferentes áreas do «sentir», através de pistas ou em pequenos retalhos, as imagens dilaceradas de uma cultura ocidental.

A vida e a morte.

 

Joana Consiglieri, 2018